Ser PROFESSOR

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

TRADUZIR-SE

Minha homenagem a Ferreira Gullar.


TRADUZIR-SE

Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.


Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.


Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.


Uma parte de mim

almoça e janta:

outra parte

se espanta.


Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se sabe de repente.


Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.


Traduzir-se uma parte

na outra parte

- que é uma questão

de vida ou morte -

será arte?



Ferreira Gullar












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